Em nome da esperança legítima da população do Rio, darei meu voto de confiança ao decreto de intervenção no Estado. Mas, estou cético, completamente descrente do sucesso da medida, por tudo que já assisti. Para ter chance de sucesso, a intervenção deveria afastar o governador Pezão – ele sim o responsável pelo descontrole da política de segurança pública. Isso eu pedi ao Presidente Michel Temer no dia 6 de julho de 2016. Fui recebido com a cordialidade de sempre pelo Presidente da República, mas não fui atendido. O Presidente preferiu fazer operações isoladas nas favelas.
Se em 2016, o número de homicídios no Estado já era alto (mais de 5 mil pessoas foram assassinadas naquele ano), no ano passado, o quadro ficou ainda pior e passamos com folga dos 6 mil. Nem os agentes responsáveis pela segurança pública escaparam. 2017 registrou 134 policiais assassinados. Este ano já são 16.
O que chamam de intervenção neste momento, verdadeiramente não é. É mera substituição sofisticada de comando. Sai o Secretário de Segurança do Estado, Roberto Sá, e entra o General Braga. O governo inepto permanece preservado. Mas, a política de segurança não é só caso de polícia. É o resultado de todas as demais políticas públicas, que permanecerão sob a batuta do Governador Pezão e do partido que está com suas lideranças presas.
E as polícias do estado? Novamente, recebem um pacote feito embrulhado na imagem de uma organização que não funciona e é corrupta. Mas, segurança pública não se faz sem polícia e polícia não se tem sem policiais treinados, estimulados, equipados e respeitados pelo governo e pela população. O mais grave entrave ao sucesso das políticas de segurança pública no estado do Rio é o importância zero que se dá aos policiais. Quem parece preocupado com a vida deles, com o risco e com a dificuldade que os bons encontram para trabalhar ao lado de policiais desonestos e impunes?
Como a gente anda num carrossel de medidas, cabe lembrar que em outubro de 1994, o então governador Nilo Batista (que substituiu Brizola, licenciado para se candidatar às eleições presidenciais) aceitou passar o comando do combate ao crime organizado do Rio para o presidente Itamar Franco. O convênio subordinava a polícia estadual ao Comando Militar do Leste e ficou conhecido como Operação Rio. Era para durar até o fim do ano, mas perdurou ate junho do ano seguinte.

Jornal O Globo: 1º de novembro de 1994
A expectativa era enorme, mas, na prática, nada mudou na política de segurança pública do Rio de Janeiro nem na vida da população. Os bandidos não foram desarmados. Os territórios dominados pelo crime não foram retomados. Enfim, o Exército entrou, saiu, e nada mudou. A presença das Forças Armadas não deixou qualquer legado no Estado.
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